Voluntariado: a atitude de doar e receber amor

Voluntariado, substantivo masculino que significa um conjunto de pessoas que desenvolvem um determinado trabalho, em geral de cunho social, por vontade própria e, na maioria dos casos, sem nenhum tipo de remuneração. Para a Organização das Nações Unidas (ONU), o termo “voluntário” representa uma pessoa que, por meio do seu interesse pessoal e espírito social, dedica parte do seu tempo para atividades diversas que visam o bem-estar da sociedade e seus indivíduos, sem necessariamente receber alguma coisa por isso. Pela experiência de alguns paraibanos como voluntários, essa atividade é uma via de mão dupla: enquanto ajuda alguém, o ajudador também é beneficiado com uma mudança de valores e filosofia de vida.

Pedrina Borges, de 24 anos, é técnica de Enfermagem e também estudante da graduação na mesma área. O vínculo com o servir já estava presente na profissão, mas ela decidiu ir mais além ao se voluntariar para o trabalho junto ao Anjos da Enfermagem, no Grupo de Ajuda à Criança Carente e com Câncer de Pernambuco (GAC-PE), localizado no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, em Recife, há quatro anos.

O primeiro contato com o voluntariado foi através desse projeto, que foi encerrado em 2020. A partir disso, a jovem conseguiu se manter atuando como voluntária no GAC através de seleção própria. “Quando o grupo encerrou, eu não me via mais longe daquele setor. Por mais que seja doloroso ver crianças doentes, eu me sentia bem em proporcionar a eles sorrisos e brincadeiras, ouvi-los me chamando de ‘tia’. Hoje eu não me vejo fazendo outra coisa a não ser trabalhar com as crianças oncológicas, fazer parte da melhora delas ou amenizar um pouco o sofrimento”, contou Pedrina.

Para a futura enfermeira, o trabalho voluntário faz qualquer um que participe se tornar mais humano, a pensar mais no próximo. Estar em contato com pacientes oncológicos pediátricos aflora ainda mais essa sensação de humanidade e necessidade de humanizar as coisas, pois busca sempre ter ideias que possam, de alguma maneira, aliviar o sofrimento causado pela doença e a condição hospitalar.

A melhor parte desse trabalho, segundo Pedrina, é chegar na enfermaria e ser chamada de “tia”, receber um bom dia animado e poder brincar com as crianças. Quando o silêncio se faz presente, é preciso ressignificar a dor para continuar seguindo. “Perder uma criança e, depois disso, ter que arranjar forças para continuar no voluntariado é o mais desafiador para mim. Não vejo um paciente, enxergo sobrinhos de coração. Eles contam seus sonhos para quando crescerem, por exemplo, e às vezes a gente acaba vendo que esses sonhos não se tornarão realidade, porque a criança faleceu. A pior parte é conviver com o luto, com certeza”, afirmou.

Para balancear o peso que, por vezes, bate no coração, a técnica de Enfermagem decidiu auxiliar na vacinação contra a Covid-19, também como voluntária, e acaba sendo mais um canal de informações seguras para aqueles que ainda chegam receosos com os imunizantes. “Entrei através de uma ação, porque achei muito interessante a sala de vacina. Acho muito importante esse trabalho diante do novo coronavírus e da pandemia, porque acabamos desmentindo muitos mitos em relação à vacina”, apontou ela.

Trabalhar na linha de frente de uma doença que até então era 100% desconhecida, principalmente atuando na etapa de proteção da sociedade, tem sido gratificante. “Ver muitas pessoas se vacinando, fazer parte desse marco histórico que está sendo, ver famílias inteiras sendo todas vacinadas, as crianças se imunizando contra o coronavírus” são alguns dos momentos que aquecem o coração de Pedrina.

Hoje, a jovem atua também em outras cidades, como Salvador e Fernando de Noronha, a partir do trabalho que se iniciou com o Anjos da Enfermagem. Se um dia o sonho era seguir na carreira de medicina pediátrica, hoje Pedrina é mais do que realizada através do trabalho como técnica, enfermeira e voluntária. “O contato direto com as crianças me ajudou muito a decidir na minha formação da pós-graduação, fez com que me apaixonasse mais ainda pela área de Saúde e a minha paixão por criança só aumenta a cada dia”, finalizou.

Agentes de transform(ação) social através do crescimento coletivo

O voluntário é uma figura social que se põe como agente transformador da vida do próximo pelo prazer de ajudar, de se fazer e sentir-se útil. Desde 2013, a ONG Milagre Sertão se propõe a ser um suporte assistencial para famílias em todo o estado da Paraíba, arrecadando e distribuindo alimentos, roupas, brinquedos e demais itens considerados de necessidade básica. Além disso, o projeto também oferta serviços de apoio como atendimentos médicos.

Rodrigo Bittencourt, de 32 anos, é empresário e atua como voluntário do Milagre Sertão, sendo um dos fundadores do projeto. Segundo ele, as possibilidades do voluntariado foram uma descoberta, porque antes da ONG não havia realizado nenhum tipo de trabalho nesse sentido. “Eu fui me descobrindo e descobrindo como é o trabalho voluntário. Isso foi de grande valia para a construção da minha personalidade. Fui conhecendo outras partes do mundo a que eu não tinha acesso, outras realidades, e é muito engrandecedor”, dividiu.

A observação e essa percepção de que existem muitas realidades por aí, por vezes muito distantes do que se está habituado, foi o pontapé para dar início ao projeto. “A gente aprende um pouco a se doar, entende da solidariedade, deixa um pouco de lado esse sistema do mundo competitivo para um sistema mais colaborativo, e assim entende que quando as pessoas caminham juntas as coisas fluem de forma muito mais fácil”, afirmou Rodrigo.
Rodrigo acredita que essa troca e a possibilidade de ser esperança e agente de transformação na vida das pessoas são as melhores partes do voluntariado. Por outro lado, conciliar as responsabilidades do dia a dia com a dedicação ao trabalho voluntário, além de se manter sempre motivado, tem sido o mais desafiador. Se Rodrigo pudesse definir essa experiência com uma palavra, seria “entrega”.

Uma mão lava a outra

Janaína Cardoso, 36 anos, aprendeu ainda muito nova sobre a importância de uma rede de apoio. Quando sua mãe ficou viúva e a família não tinha mais condições de morar em Campina Grande, vieram para João Pessoa. Na capital, foram abrigados por alguns parentes enquanto a mãe, que trabalhava como empregada doméstica, tentava conseguir alguma melhoria de vida. “Eu senti em mim o quanto é importante ser ajudado, então sempre tive esse desejo de poder ajudar”, explicou.

Atualmente, mesmo estando desempregada, Janaína trabalha como voluntária no projeto Clube de Mães do Aratu, comunidade onde mora. O objetivo do trabalho é, além de poder auxiliar com alimentos, roupas e demais itens básicos, também possibilitar a essas mulheres um empoderamento, fortalecer vínculos e orientar acerca de violências, se constituindo, de fato, como uma rede de apoio.

“Esse é um trabalho que tem me chamado há muito tempo. Fui voluntária em outros espaços, em outros bairros por onde morei, e quando vim para o Aratu, eu senti falta desse trabalho social, que é tão importante. Aos poucos a gente foi desenvolvendo até chegar ao Clube de Mães”, lembrou Janaína.

O trabalho busca também conscientizar as meninas mais jovens, crianças e adolescentes, a discutir temáticas atuais e se fortalecer também nesse sentido. Para Janaína, essa é uma experiência que muda, principalmente, a visão com relação ao mundo. “A gente sai um pouco dos muros das nossas casas e se entrega ao próximo. É uma experiência enobrecedora. A maior transformação foi dentro de mim”, completou.

 

Via: https://auniao.pb.gov.br/noticias/caderno_diversidade/voluntariado-a-atitude-de-doar-e-receber-amor