Circulando pelos corredores das enfermarias do Centro de Onco-hematologia de Pernambuco (CEONHPE), referência no tratamento do câncer infantojuvenil, é comum encontrar mulheres acompanhando seus filhos e filhas nos leitos de internação. Muitas delas são mães solo, que vieram do interior e abdicaram de suas próprias vidas para se dedicarem inteiramente ao tratamento dos filhos. No local, elas recebem assistência do Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer (GAC-PE), instituição sem fins lucrativos que atua há 25 anos na humanização do ambiente hospitalar.
Mãe de três filhos, Maria Anizabete reveza com a sua irmã, Ethyeni Silva, os cuidados do filho Tobias Chaves, de 16 anos. Em dezembro de 2021, o jovem foi diagnosticado com Leucemia Mieloide Aguda (LMA). Natural de Jataúba, no Agreste de Pernambuco, Anizabete abandonou o emprego de serviços gerais para ficar ao lado do filho mais velho. “É difícil ter que deixar minhas crianças em casa, o mais novo tem apenas três anos e parou de amamentar porque eu precisava estar aqui ao lado de Tobias”, revela.
Internado há pouco mais de três meses, Tobias não progrediu com o tratamento e agora se encontra na fila de espera por um doador de medula óssea. “Eu cheguei a fazer um teste para doar a minha medula, mas infelizmente eu não sou 100% compatível”, lamenta. Segundo Anizabete, seu ex-marido e pai biológico do filho poderia ser um potencial doador, mas ele se recusa a fazer os testes laboratoriais que medem o nível de compatibilidade.
A falta de assistência e a ausência da figura paterna é um fator que se repete entre as famílias atendidas no CEONHPE/ GAC. “Muitas vezes, só a mãe fica ao lado das crianças no tratamento e os pais simplesmente abandonam a família. É uma situação muito difícil para essas mulheres ter que suportar tudo isso sozinhas, longe da família e fora de seus empregos”, conta Naila Soares, assistente social do GAC-PE. “Torna-se essencial o atendimento psicológico à mãe que enfrenta a distância de casa e de outros filhos, o medo da perda e a esperança diante das incertezas que é o cotidiano do tratamento”, explica Ana Cláudia, psicóloga do GAC-PE.
O atual esposo de Anizabete, José Ailton, vem sendo um importante parceiro e tem ajudado a cuidar dos seus outros dois filhos em Jataúba. Ailton é ex-usuário de drogas, sofre de esquizofrenia e precisa tomar medicamentos controlados. “Apesar da doença, ele está se saindo um exemplo, porque cuida dos meus pequenos e não deixa faltar nada. Para mim, ele é um exemplo de vida e superação”, declara, emocionada.
Todas as segundas-feiras pela manhã, o GAC-PE em parceria com o CEONHPE, promovem a Reunião de Acolhimento, onde uma equipe multidisciplinar presta assistência humanizada aos acompanhantes dos pacientes em tratamento. “Está sendo um processo doloroso lidar com a doença, mas com a assistência humanizada que recebemos aqui, fica mais fácil de administrar”, ressalta Anizabete.